Adolescentes: A Maravilhosa Crise do amadurecimento

O que chamamos “Adolescência”?

Dentro de qualquer assunto, o elemento causador de pânico e confusão mais poderoso é sempre a indefinição.

Quando lidamos com situações difíceis, desafiadoras, e não fazemos ideia de com o que estamos lidando, a coisa tende a se tornar um verdadeiro monstro embaixo da cama.

Não é incomum que a simples definição e delimitação do problema transforme aquilo que parecia uma fera em um gatinho arisco.

É mais ou menos o que acontece quando compreendemos o que é a malfadada adolescência e quais seus elementos principais.

Para já retirar o primeiro elemento do caminho, adolescência é o ponto intermediário que existe entre um ser humano completo, ou seja, adulto, maduro, e um que ainda está em seu estágio infantil.

“Ah, professor, mas isso é óbvio!”

Será? Vamos dar uma olhada no que isso significa.

Acontece que as estruturas que existem na fase infantil são diretamente antagônicas às da fase adulta. A criança é tutelada, o adulto é autônomo. A criança é nutrida, o adulto deve produzir. A criança é majoritariamente afetiva, o adulto é majoritariamente intelectivo.

Para entender melhor, leia nosso artigo sobre as Fases do Desenvolvimento de Virtude.

O que isso significa? Significa que quando as perfeições adultas começam a surgir, elas entram em curto com as estruturas já presentes.

A adolescência é justamente a fase em que ambas as estruturas coexistem em uma mesma pessoa: as estruturas infantis ainda não foram abandonadas e as perfeições adultas não estão plenamente formadas.

É precisamente por isso que, todos sabemos, a adolescência é uma fase de conflitos.

A primeira coisa que todo educador deve entender para lidar com a coisa toda é que, em sua esmagadora maioria, esses conflitos são internos.

Sim, eles entram em conflito com os pais, professores, mas antes de tudo, com eles mesmos.

É a criança se recusando a partir e o adulto lutando para se firmar ao mesmo tempo.

A função do bom educador é justamente e gradualmente estimular aquelas perfeições da vida adulta, enquanto desestimula as estruturas remanescentes da infância.

A arma mais poderosa em seu arsenal é a frase mais simples: “Meu filho, você não é mais criança”.

O “Melhor” dos Dois Mundos.

Um dos maiores problemas que enfrentamos nessa fase da vida é justamente estar dividido entre dois mundos e não querer abrir mão de nenhum dos dois.

O adolescente frequentemente deseja as vantagens da vida adulta! Quer ser autônomo, comandar a própria vida e ser respeitado como igual por todos.

No entanto, ao mesmo tempo, não quer abrir mão das coisas de criança: quer sentir prazer o tempo todo, quer que outros cuidem de suas necessidades e desejos, quer que seu comportamento seja tolerado por todos.

Ele não percebe que essas duas realidades são incompatíveis.

É impossível, ao mesmo tempo, ser autônomo e ter outras pessoas providenciando suas necessidades.

É impossível comandar a própria vida quando ainda se segue cada desejo irracional e prejudicial que aparece em seus afetos.

E é impossível ser respeitado como igual entre adultos quando não se age como adulto.

Devemos então repreendê-los quando agirem de forma infantil?

Muito mais que isso! Devemos mostrar para eles como a vida adulta é atraente e interessante. Ao mesmo tempo, mostrar que, para tê-la, ele precisa abrir mão das coisas de criança.

O Desejo de Individualidade.

É importante perceber que essa crise de desenvolvimento é boa! É sinal de que certas faculdades mais adormecidas começam a despertar no adolescente.

Uma delas é a percepção de si mesmo como indivíduo.

O Adolescente não quer mais ser o “filho do João”. Quer ser o José!

E essa busca da identidade pessoal é boa, é pra ser assim mesmo.

No entanto, alguns equívocos comuns podem acontecer. O primeiro deles é confundir autenticidade com extravagância.

O que isso significa? Que ser diferente não é o mesmo que ser único.

É possível ser um exato “copia e cola” usando roupas chamativas e cabelo colorido. E é possível ser uma individualidade brilhante tendo um comportamento e aparência bem ordinários.

O Adolescente, às vezes, fracassa em perceber que a verdadeira individualidade vem de dentro, das meditações que fazemos sobre o mundo, de nossa relação com Deus, nossa vocação e nossos sonhos, nosso papel na história. E não de que tipo de música eu escuto!

Uma vez, uma aluna minha tentava me convencer do valor de um estilo musical coreano chamado K-pop.

Ela dizia que a música a ajudava a se expressar.

Perguntei então: expressar o quê?

Ela responde que a música a fazia sentir coisas diferentes.

Respondi: “Ok! Mas isso não é se expressar, isso é sentir. O que dentro de você ela ajuda a expressar?”

Ela ficou confusa. Ficou ainda mais confusa quando perguntei se ela ao menos sabia o que era dito na letra da música (em coreano, repare). Evidentemente, ela não sabia.

Que ideias, que pensamentos, que moções essa música ajudava a expressar?

Nenhum.

Gostar de K-pop não dizia nada sobre ela. Não a tornava única. Ou melhor, não era o que a tornava única.

Pense em uma moça em uma plateia de show e uma sentada à sua frente em um café, contando de seus projetos e reflexões. Qual das duas lhe parece única? Qual parece um ponto indistinto em uma multidão?

É uma grande riqueza para o adolescente perceber que sua individualidade é interior.

O segundo problema que pode aparecer é a confusão entre a afirmação da individualidade diante dos pais e o antagonismo aos mesmos.

Discordar não faz de ninguém único. Especialmente se a discordância é irracional.

Concordar também não!

O que nos faz únicos é discordar ou concordar por boas razões, com bons argumentos, depois de ter meditado sobre o assunto.

Isso é a característica de uma pessoa autêntica.

O Medo da Inaptidão.

Como já mencionamos, essa é a idade que deseja autonomia. Mas autonomia também significa que ninguém fará por você o que deve ser feito.

Essa é uma percepção que a maioria de nós tivemos quando saímos da casa de nossos pais para termos nossa própria casa: “Meu Deus, a louça não se lava sozinha!”

Isso significa que a capacidade começa a ser um motivo de preocupação. E essa preocupação tem dois aspectos.

Primeiro, o medo de parecer dependente, incapaz de carregar o próprio peso, em outras palavras, uma criança.

Esse, infelizmente, é um medo que os adolescentes da atual geração tem perdido.

Por outro lado, é também o medo de não possuir uma habilidade, uma capacidade que o diferencie dos demais e, ao mesmo tempo, o torne indispensável.

Isso é um movimento interno indispensável à vida social. Sei que pode parecer duro e pouco cristão, mas a verdade é que o mundo não tem interesse algum por pessoas inúteis.

Pode-se negar essa afirmativa apenas até a primeira entrevista de emprego.

O desejo de sermos úteis, de contribuirmos, é legítimo.

O problema aparece quando esse desejo é substituído por um placebo.

Para aqueles que não sabem, placebo é um medicamento com pouco ou nenhum efeito que se dá para o paciente para que seu corpo pense que está sendo tratado.

Em suma, é uma coisa que parece remédio, mas não é.

Os placebos que os adolescentes podem receber, muito danosos aliás, são “habilidade” que não tem absolutamente nenhuma serventia que não seja afagar o ego ou os afetos de quem a pratica.

Exemplos seriam o destaque em redes sociais por motivos fúteis, a excelência na prática de um videogame, e todo tipo de hobby divertidinho, mas vazio.

Você pode imaginar que essa afirmação pode enfurecer muitos adolescentes, mas é justamente porque ela tira deles a habilidade que pensavam ter.

Em que o mundo é melhor por você ter essa habilidade? No que isso te torna uma pessoa maior? Qual a possibilidade de você ser lembrado por isso daqui a 10 anos? No que isso melhora de verdade a vida das pessoas?

Se a habilidade não passa no teste de alguma dessas perguntas, ela é fútil.

“Ah, professor, mas, pra mim, é importante!”

É verdade, não duvido. Mas essa é a afirmação de uma criança. A criança pensa que o mundo gira ao redor de seus interesses. O adulto sabe que ele tem de se mostrar útil para ser valorizado.

É de extrema importância que se canalize esse desejo para habilidades úteis, dignas e de valor verdadeiro.

A Ameaça do Ostracismo.

Dentro do que já falamos, fica evidente que um grande desejo que faz parte dessa fase da vida é o do pertencimento.

O adolescente (como todos nós, na verdade) deseja ser aceito, querido, respeitado e ouvido por seus pares.

Isso, por si só, é justo!

O problema se dá quando a coisa se transforma em uma casa de espelhos de imperfeições.

O que quero dizer é que, em uma situação ideal, o adolescente desejaria ser aceito e respeitado por pessoas melhores do que ele.

O que acontece regularmente é que seu desejo de aceitação se direciona a pessoas que são iguais a ele!

Ou seja, um adolescente ainda inexperiente, inseguro de suas capacidades e pouco senhor de seus afetos acaba querendo se igualar e ser aceito por outros adolescentes… ainda inexperientes, inseguros de suas capacidades e pouco senhores de seus afetos.

Dá pra perceber que esse barco não vai a lugar nenhum?

E pior! Não é raro que, no processo de querer ser aceito por pessoas ainda muito imperfeitas, o adolescente sacrifica sua verdadeira individualidade, mesmo seu caráter, tornando-se mais um no meio da multidão.

É aí que chegamos em uma geração que protesta por autenticidade e cujos membros parecem uma xerox uns dos outros. Mesmos estilos (mesmo que estilos exóticos), mesmas músicas, mesmos jargões, mesmos ideais pouco sólidos.

“Minha tribo” se tornou sinônimo de grupo no qual eu diluo minha personalidade.

O maior segredo que o adolescente vai custar muito a aprender é que a forma mais rápida de ser aceito (e aceito por pessoas decentes) é ser realmente autêntico e capaz.

A pulsão por Liberdade.

Já repetimos por algumas vezes aqui o desejo do adolescente de autonomia. Na verdade, deseja-se mais do que autonomia. Deseja-se Liberdade.

Não vai assustar ninguém a informação de que a maioria desses mesmos adolescentes não fazem ideia do que é a verdadeira Liberdade (a maioria dos pais também não sabem).

Mais do que isso! Eles não sabem que para se possuir verdadeira Liberdade, é preciso ter Responsabilidade.

Sei que a maioria dos adolescentes lendo isso (se é que algum vai) vão revirar os olhos à mera menção dessa palavra. No entanto, talvez não entendam o que quer dizer Responsabilidade.

Essa palavra significa a capacidade de responder pessoalmente pelas próprias escolhas. Em outras palavras, se existem consequências, boas ou más, por algo que fiz, eu serei aquele a arcar com elas.

Acontece que quando não somos nós a responder por uma ação, nós não possuímos essa ação de verdade. Dependemos de outro e esse outro tem direito de intervir em nossas ações.

Um exemplo: se o adolescente quer cometer um delito, mas quem vai ser chamado pela polícia é mamãe e papai, ele não pode sequer se gabar da ousadia de tê-lo cometido. Quem vai pagar não é ele!

Ele pensa ser livre, mas o que todos verão (e com razão) é apenas uma criança pirracenta se revoltando contra o nada.

Aliás, vai acontecer exatamente o que aconteceria com uma criança que comete um delito, não? Papai e mamãe serão acionados.

Agora, pense em um jovem que, além de estudar, trabalha meio período para juntar dinheiro pra comprar a guitarra que sempre sonhou. Quando ele a comprar, seus pais poderiam lhe tirar a guitarra sem motivo justo?

Não! Sabe por que? Porque a guitarra é verdadeiramente dele. Ele responde pessoalmente pelo trabalho que a produziu. É responsável por ele. E por isso tem a liberdade de fazer com seus ganhos o que quiser (dentro da moral, evidentemente).

A melhor coisa que pode acontecer a um adolescente é se livrar da ilusão de uma liberdade sem preço.

O Sonho de Crescer.

adolescência

Por fim, chegamos ao ponto mais belo e importante da adolescência. Mesmo que o adolescente não saiba, ele tem dentro de si o sonho de tornar-se adulto, de tornar-se grande.

Quer testar? Chamo-o de criança. Aliás, chame-o de adolescente! Na esmagadora maioria das vezes, a reação é imediata e negativa.

Isso acontece porque ele de fato está às portas de uma vida muito maior do que aquela que vivia em sua infância.

De todas as coisas, essa é a que deve ser mais cultivada no adolescente. É bom que ele sonhe! É bom que ele projete!

A coisa mais triste da atual geração é que ela gira ao redor de si mesma. E, por isso, afunda.

Não possuir metas, ideais, é o mais certo causador de ansiedade e depressão. O Dia de amanhã se torna um mistério apavorante, o de hoje, um tédio sem sentido.

É preciso mostrar a eles que existe uma vida imensa por detrás dos pequenos prazeres do agora. A vida é longa e maravilhosa, podemos fazer dela coisas incríveis.

Esse é o maior remédio para as crises da adolescência.

Infelizmente, o maior problema nesse ponto é que a maneira mais fácil de encantar o adolescente pela vida adulta é apresentando ele a adultos de verdade.

E esses, infelizmente, estão em falta.

Escrito por Prof. João Gabriel

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